Na
noite de segunda-feira, dia 27 de abril, a comunidade escolar da Educação de
Jovens e Adultos da EMEF Dr. João Alves dos Santos teve o prazer de receber a
“Parada Poética” na escola. A Parada Poética é um evento que acontece
mensalmente, em todas as segundas-feiras de cada mês, na Estação Ferroviária de
Nova Odessa-SP, esse evento é organizado pelo músico, compositor, poeta e
rapper Renan Inquérito, que no final do ano passado lançou o CD Corpo e Alma.
Neste
ano, Renan e o fotógrafo Marcio Salata têm visitado as escolas da Região
Metropolitana de Campinas, apresentando o Projeto Encantar, uma parceria com o
SESC Campinas.
A
vinda da Parada Poética na EJA da EMEF Dr João Alves dos Santos complementa um
projeto que vem sendo desenvolvido pelos professores de EJA da escola e
coordenado pela professora de língua portuguesa Karina Vieira.
O
projeto busca trabalhar com a poesia e temáticas sociais e existenciais de
interesse dos jovens e adultos do período noturno.
Para
que a comunidade escolar da EJA pudesse organizar seu próprio sarau, nossa
escola promoveu o estudo do meio, com a participação dos alunos a duas edições
da Parada Poética em Nova Odessa, momento em que puderam conhecer mais sobre
poesia, sobre recitar versos e sobre como organizar um sarau. Motivados pelo
que viram nas visitas à Parada, nossos alunos produziram seus próprios poemas e
organizaram, junto com os professores, um sarau de poesia para receber a Parada
Poética.
Na
noite de 27 de abril, Renan Inquérito (músico, poeta, ativista cultural e
rapper), idealizador da Parada Poética, trouxe para nossa escola, um pouco do
seu sarau, recitando versos e letras de suas músicas, distribuindo muita poesia
e alegria aos alunos jovens e adultos e seus familiares presentes.
Diversos
alunos de todos os termos e também da FUMEC recitaram poesias, em sua maioria,
autorais, e alguns até se arriscaram improvisando, com destaque para o Seo
Antônio que compartilhou com todos os seus causos urbanos e repentes.
Os
alunos fizeram, ainda, duas homenagens, uma delas à Carolina Maria de Jesus,
escritora com a qual os professores têm trabalhado para falar dos temas
abordados para a escrita. Depois de a aluna Fátima (3º termo) e o aluno Marco
(4º termo) lerem poemas para homenagear a escritora, foram distribuíram a todos
os presentes uma rosa de EVA com um bombom dentro ao som de “Rosa do Morro”,
música do grupo Inquérito também dedicada à Carolina.
O
outro homenageado, como não poderia deixar de ser, foi Renan Inquérito, que
ouviu o aluno Robinson (2º termo) recitar versos falando do seu trabalho como
rapper e poeta.
Tivemos
ainda, o aluno Alef (3º termo) que participa de um grupo de street dance e
mostrou um pouco dos movimentos e malabarismos da dança de rua no nosso sarau.
Para
fechar a noite, Renan batizou o sarau da EJA João Alves com um nome escolhido
entre os alunos e professores, “Esquina da Rima” e deixou o recado: “a Parada
não para”, e a EJA João Alves e outras escolas de Campinas podem dar uma parada
poética quando quiser.
Leia
alguns dos poemas recitados no nosso Sarau
Milhões de pessoas na nossa sociedade
Vivem em
situação de desigualdade
A justiça
faz vista grossa
A TV e o
jornal até gosta
De ver o
jovem negro espancado
E o
favelado sendo fuzilado
A mulher
apanhando do esposo
O
homossexual levando soco
A mãe
solteira sem escolaridade
Vendo sua
filha menor dar a luz na maternidade
Racismo,
preconceito social
O pobre negro dando sua versão no
tribunal
E a polícia cara de pau
Quando não mata, espanca até mandar
pro hospital
E a mídia, meu irmão?
Esconde a verdade da população!
(Carlos - 4º termo)
Racismo em campo
Na arquibancada a torcida agita
E em campo o juiz apita.
O jogador negro é jogado para
escanteio
Enquanto em campio o racismo está no
meio.
O jogador negro de alma nobre
E a torcidade de espírito pobre
No estádio e no gramado
Alegria é coisa do passado.
O racismo nos oprime
Até pra assistir nosso time
Vira caso de delegacia
O esporte da alegria.
No país do futebol
O racismo marca gol
O maior divertimento
Pro jogador negro vira tormento
Ele é tratado com descaso
Por ser neste país descendente de
escravo.
(Ilson - 4º termo)
Orgulho no mundão
Meninas e meninos pedem um pedaço de
pão
Nas esquinas de bares só se ouve não
Quem sabe nós plantando um grão
Poderemos alimentar uma nação
(Márcio - 3º termo)
Vida de guerreira
Sinto a falta da minha família
completa
Dos filhos pequenos andando de
bicicleta
São muitos problemas, mas um dia.
Vou agradecer aquele lá de cima
Só quero cuidar da minha família
Ter paz e às vezes um pouco de
alegria
Deixar pra lá todos essas besteiras
E seguir a minha vida de guerreira
(Solange - 2º termo)
Três gerações
Sou mulher, separada
Trabalhadora, favelada
Ganho a vida como babá
Estudo pra poder conquistar
O melhor pra mim
Pra cuidar bem do meu jardim
Nele tenho duas flores
Minha mãe, minha filha, meus amores
Três gerações de guerreiras
Lutando de todas as maneiras
O que passei só eu sei
Não quero isso pra minha filha
Quero que ela viva como rainha
Estude, lute pra ter um futuro
E me dê muito orgulho.
(Claudete - 1º termo)
A vida no sertão
Fui uma menina sofrida
Sem conhecimento da vida
Não tive o prazer de estudar
Meus estudos foi trabalhar
Meu lápis era a enxada
Não sobrava tempo pra nada
Na roça todo dia
Pra ajudar a família
Pobre não tem que estudar, meu pai
dizia
Hoje estou aqui com o lápis na mão
Longe do sertão
Tentando desenvolver minha
mentalidade
Da enxada eu não tenho saudade
E digo pra vocês que nunca é tarde
Quando se tem vontade.
(Maria do Socorro - 1º termo)
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