Carvoaria - Antônio Conceição dos Santos
Na
noite de ontem, 29 de outubro, a Educação de Jovens e Adultos - EJA da EMEF Dr João Alves dos Santos
foi destaque na Culminância do Projeto “Trabalho, Justiça e Cidadania” (PTJC).
Caracterizados de aventais, em uma homenagem aos trabalhadores brasileiros, os
alunos e professores da EJA estiveram presentes no evento de encerramento do
PTJC, que teve como intuito expor trabalhos dos alunos das escolas de EJA II e
salas de FUMEC participantes do projeto e divulgar os vencedores do Concurso de Redação e Fotografia “Retratos
da vida: o trabalho justo e cidadão”.
Entre mais de sessenta trabalhos finalistas, a EMEF/EJA Dr. João Alves dos Santos foi agraciada com quatro prêmios: três na categoria redação e um na categoria fotografia. Na categoria redação, foram premiadas as alunas Rosana Cristina da Silva Ricci (4°termo), Elizabeth
Jerônimo da Silva (4°termo) e Hormena Alves Ribeiro Nunes (3°termo); na
categoria fotografia, recebeu o prêmio o aluno Antônio Conceição dos Santos (3°
termo). Cada aluna e aluno levou para casa um smartphone. As alunas, que venceram
na categoria "redação", apostaram na
poesia, na representação da mulher trabalhadora e nos direitos das empregadas
domésticas. Já na fotografia, o aluno Antônio registrou a precariedade do
trabalho em uma carvoaria.
Os alunos que participaram do concurso foram orientados pelos
professores da EJA, sob a coordenação da Professora de Língua Portuguesa Karina
Vieira.
Trata-se, sem dúvida, de mais uma vitória da Educação de
Jovens e Adultos – EJA do João Alves, dos alunos e alunos, mulheres e homens
que vão à luta todos os dias para conciliar trabalho e estudo. A EMEF/EJA Dr.
João Alves dos Santos parabeniza os alunos pela vitória e agradece à AMATRA XV,
ao Projeto TJC e à SME pela oportunidade.
Veja a página do projeto Trabalho, Justiça e Cidadania, da AMATRA XV, clique aqui
Veja a página do projeto Trabalho, Justiça e Cidadania, da AMATRA XV, clique aqui
Leia abaixo os poemas premiados:
A humildade de uma doméstica
Se eu não me engano foi no ano de 1995
Minha mãe trabalhava numa casa de granfino
Eu tinha 13 anos e ainda podia estudar
E um dia que não tive aula, fui com ela pra ajudar.
O apartamento mais de dez cômodos tinha
Era bem diferente de onde a gente vinha
Ficava em um bairro nobre, no vigésimo terceiro
andar
Lá havia um casal com duas filhas pra cuidar.
Às sete da manhã começamos a limpeza
Meio-dia e ainda não tinha almoço na mesa
Eu e minha mãe já muito cansadas
A fome ia nos deixando desanimadas.
Às catorze horas a família se sentou pra almoçar
E eu me perguntava o quanto mais tinha que esperar
Fui até cozinha onde a governanta sua refeição
fazia
E eu e minha pobre mãe de barriga vazia
Fiquei revoltada com aquela situação
E pra minha humilde mãe expliquei a humilhação
Vamos sair daqui, não precisamos de esmola
A patroa não queria deixar a gente ir embora
Disse que ainda tinha serviço pra fazer
E eu respondi: o resto da faxina faz você
Pegamos nossas coisas e saímos daquele lugar
Fomos embora de lá pra nunca mais voltar
O que eu e minha mãe passamos
As domésticas passam há anos
São tratadas como se ainda tivesse escravidão
Mesmo com a CLT e a Constituição
Rosana Cristina da Silva Ricci
– 4º termo
Iraci
Dona Iraci trabalhou na roça desde criança
As colheitas eram suas brincadeiras de infância
Sempre sonhando com um futuro melhor
Para naquela escravidão deixar de descer o suor
A farinha era a poeira secando a goela
O destino era incerto para ela
Mas a pobre mulher ali sempre lutando
Por várias vezes suas lágrimas derramando
Então foi em busca de uma vida diferente
Mal sabia ela o que vinha pela frente
Mudou para São Paulo achou que seria solução
Mas a cidade grande acabou sendo sua desilusão
Sem experiência foi trabalhar em casa de família
Serviço realizado por arroz, feijão e moradia
Por anos e anos assim trabalhando
Sofrendo, chorando e sua vida levando
Com o passar dos anos as mãos calejadas
Dona Iraci já com idade avançada
Pelo governo mais uma brasileira esquecida
Mesmo assim sonhava em ser reconhecida
Hoje vive de uma pobre aposentadoria
Que mal dá para o sustento do dia a dia
Devido aos anos de trabalho desgastante
Ela sente que já não é a mesma que antes
Os anos se passaram, o país mudou
E a trabalhadora doméstica alguns direitos conquistou
Mas no Brasil ainda tem muita Iraci
Que infelizmente sobrevive por aí
Elizabeth Jerônimo da Silva – 4º
termo
Nadir
Nadir nasceu no campo
Longe da civilização
Sem saber o que era notícia
Rádio ou televisão
A única escola que tinha
Era quilômetro de distância
Não faltava na aula
Enfrentando toda circunstância
De seus irmãos ela cuidava
Para seus pais trabalhar na plantação
O arroz naquela época
Ela descascava no pilão
O tempo foi passando
E Nadir já na sua maior idade
Só tinha a quarta série
E nenhuma oportunidade
Mesmo sem informação
Professora sonhava em ser
Para poder um dia
Outra história escrever
Cansada daquela vida
Nadir tomou uma decisão
Procurar emprego na cidade
Era a única solução
Sem ninguém saber de nada
Foi até a cidade combinar
Acertou tudo com o taxista
Para outro dia ir buscar
Deixou suas coisas no jeito
E em uma madrugada
Encontrou com o taxista
Depois de uma longa caminhada
Ao amanhecer daquele dia
Nadir muito ansiosa
Deixou sua cama vazia
E foi embora nervosa
Trabalhar de doméstica
E seus estudos continuar
Com esforço e dedicação
Uma nova história poder contar
Agora na faculdade
Com muita satisfação
Professora formada
E o seu diploma na mão
Esse é o retrato de uma vida
Como a de muito cidadão
Que com trabalho justo
Consegue mudar de situação
Hormena Alves Ribeiro Nunes
3º termo
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